sexta-feira, 11 de maio de 2012

I cycle in horta

 “I cycle in horta” é um grupo de discussão e promoção da bicicleta como veículo de mobilidade urbana. É um grupo aberto com existência virtual e real. A sua presença virtual faz-se através do facebook (procurando I cycle in horta), página a que qualquer utilizador do facebook pode aderir e qualquer pessoa pode consultar e na qual são publicados vídeos, fotos e artigos relacionados com a cultura da bicicleta. Fora da world wide web este grupo promove acções de sensibilização de entidades oficiais e público em geral para as vantagens e mudanças necessárias para utilizar a bicicleta como meio de transporte nesta bela cidade. Entre as iniciativas deste grupo recém-nascido encontra-se uma reunião com o responsável máximo do poder local, na qual foram sugeridas diversas propostas para melhorar as condições de utilização dos meios suaves de mobilidade (pedonal e bicicleta). Outra iniciativa foi o “1º bic-nic horta” que teve lugar no parque de merendas do porto da Feteira, para o qual se propôs que os participantes se fizessem deslocar de bicicleta. Esta iniciativa será para repetir todos os meses, em locais diferentes, de forma a eliminar alguns mitos existentes sobre a dificuldade de utilizar a bicicleta como meio de transporte na cidade.
É precisamente sobre esses mitos, e o desmontá-los, que os próximos parágrafos se vão debruçar:
Mito nº 1- Condições climatéricas adversas: Quem ouvir as previsões meteorológicas dos media nacionais fica com a sensação que nestas ilhas atlânticas está sempre a chover e que os açorianos nunca viram o sol. Quem cá vive sabe que isso não é verdade. Todos nós sabemos que de facto chove bastante mas não de forma permanente. Quem anda a pé ou de bicicleta já se apercebeu que existem dois tipos de precipitação mais comuns, os aguaceiros, que às vezes são bastante fortes mas geralmente de curta duração, e a chuva miudinha e persistente. Quando está de aguaceiros tudo o que temos de fazer é esperar que passe, algo que teremos sempre de fazer mesmo quando nos deslocamos de carro. Quando está chuva miudinha o tempo de deslocação numa bicicleta é tão curto que não chegamos a ficar molhados, principalmente se tivermos em conta que podemos ir de porta a porta com este meio de transporte. No que diz respeito ao clima, pessoalmente considero que a situação mais adversa é o vento fresco a forte frontal, que torna a deslocação mais difícil. No entanto, esta situação é facilmente minimizada com uma bicicleta com mudanças e uma boa escolha de percurso (o interior da cidade é menos ventoso que a frente marítima). Em Copenhaga e Amsterdão as condições climatéricas são francamente mais adversas do que aqui e cerca de 80% dos utilizadores de bicicleta continuam a fazê-lo no Inverno, apesar das temperaturas negativas e das estradas com neve.
Mito nº 2- A cidade é demasiado íngreme: Cerca de 80% a 85% do comércio e serviços da cidade encontra-se na parte baixa da mesma, sendo totalmente acessível com qualquer tipo de bicicleta. Para as ligações entre as zonas residenciais a cotas intermédias (hospital, ALRAA, novo DOP) e as áreas comerciais, as mesmas são possíveis com uma boa bicicleta com mudanças e com uma boa escolha de percursos (um percurso mais longo e menos íngreme é mais acessível do que um percurso mais directo que tenha uma subida mais acentuada). Para a ligação das zonas residenciais a cotas mais altas (Belavista e Dutras) com a cidade, a mesma é possível com uma bicicleta eléctrica, que dá um apoio nos troços mais difíceis. Cidades como Lisboa, Porto ou São Francisco são mais íngremes do que a Horta e o número de utilizadores de bicicleta nestas cidades está a aumentar diariamente.
Mito nº 3- Condições de circulação adversas: As estradas tipo calçada não são as mais indicadas para a circulação de bicicletas, sendo os pavimentos em asfalto muito mais confortáveis. No entanto, este problema pode ser minimizado com uma boa bicicleta, que tenha um sistema de amortecedores na roda da frente e um selim que seja confortável e com amortecedores. Uma bicicleta com amortecedores na roda traseira também pode ajudar. Mais grave é a falta de ciclovias, estacionamento e condições de segurança e facilidade de circulação. Contudo, só será possível melhorar as mesmas através da sensibilização dos governantes locais e regionais. Naturalmente, quanto mais pessoas exigirem melhores condições de mobilidade suave, maior a sensibilidade das entidades para ir ao encontro dessas exigências.
Mito nº 4- Vestuário: Não há nada mais assustador do que ver alguém andar de bicicleta de forma descontraída na marginal totalmente equipado para fazer BTT. Não me interpretem mal, não tenho nada contra os equipamentos de BTT, os mesmos são práticos e úteis no seu verdadeiro contexto, mas tão desadequados à utilização urbana como o equipamento de um piloto de rally para o cidadão comum andar de carro na cidade. Uma bicicleta adequada, com guarda-lamas, protecção de corrente, protecção de saias (nas bicicletas de senhora), etc. permite que nos desloquemos com a roupa do dia a dia. Este é um mito tão enraizado na sociedade contemporânea que surgiu um movimento global para mostrar que andar de bicicleta não é incompatível com a utilização de roupa quotidiana. Esse movimento chama-se Cycle Chic e surgiu há mais de cinco anos na Dinamarca através do “Copenhagen Cycle Chic” (http://www.copenhagencyclechic.com/), tendo-se alastrado a outras cidades do mundo incluindo Lisboa e Porto.
Como podemos observar, existe algo essencial para que seja possível utilizar a bicicleta como meio de transporte urbano, e que é: uma boa bicicleta. Uma experiência desagradável numa bicicleta desadequada é suficiente para quebrar o ânimo de utilizadores menos motivados. Existem diversos tipos de bicicleta sendo que, para uma utilização mais urbana, uma bicicleta de cidade é mais indicada do que uma bicicleta de montanha (BTT) ou de estrada (ciclismo). É importante lembrar que uma utilização urbana da bicicleta é muito diferente de uma utilização fora de estrada, e que uma bicicleta que permita uma posição mais vertical do tronco oferece uma melhor visibilidade do que nos rodeia, alivia a pressão nos pulsos e dá mais conforto na zona dos rins. Na hora de comprar, vale a pena perder algum tempo a analisar diversos modelos, tendo sempre presente as necessidades pessoais, tais como o tamanho do quadro, tipo de selim, tipo de guiador, tipo de sistema de travões e de mudanças, acessórios, etc. Na página “I cycle in horta” não faltam alternativas e sugestões para encontrar a bicicleta certa.
A todos os que queiram juntar-se-nos, sejam bem-vindos...

nota: Este artigo foi publicado na edição 74 do jornal cultural FAZENDO.

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