“I cycle in horta” é
um grupo de discussão e promoção da bicicleta como veículo de
mobilidade urbana. É um grupo aberto com existência virtual e real.
A sua presença virtual faz-se através do facebook (procurando I cycle in horta), página a que qualquer
utilizador do facebook pode aderir e qualquer pessoa pode consultar e
na qual são publicados vídeos,
fotos e artigos relacionados com a cultura da bicicleta. Fora da
world wide web este grupo promove acções de sensibilização
de entidades oficiais e público em geral para as vantagens e
mudanças necessárias para utilizar a bicicleta como meio de
transporte nesta bela cidade. Entre as iniciativas deste grupo
recém-nascido encontra-se uma reunião com o responsável máximo do
poder local, na qual foram sugeridas diversas propostas para melhorar
as condições de utilização dos meios suaves de mobilidade
(pedonal e bicicleta). Outra iniciativa foi o “1º bic-nic horta”
que teve lugar no parque de merendas do porto da Feteira, para o qual
se propôs que os participantes se fizessem deslocar de bicicleta.
Esta iniciativa será para repetir todos os meses, em locais
diferentes, de forma a eliminar alguns mitos existentes sobre a
dificuldade de utilizar a bicicleta como meio de transporte na
cidade.
É precisamente sobre
esses mitos, e o desmontá-los, que os próximos parágrafos se vão
debruçar:
Mito nº 1- Condições
climatéricas adversas: Quem ouvir as previsões meteorológicas dos
media nacionais fica com a sensação que nestas ilhas atlânticas
está sempre a chover e que os açorianos nunca viram o sol. Quem cá
vive sabe que isso não é verdade. Todos nós sabemos que de facto
chove bastante mas não de forma permanente. Quem anda a pé ou de
bicicleta já se apercebeu que existem dois tipos de precipitação
mais comuns, os aguaceiros, que às vezes são bastante fortes mas
geralmente de curta duração, e a chuva miudinha e persistente.
Quando está de aguaceiros tudo o que temos de fazer é esperar que
passe, algo que teremos sempre de fazer mesmo quando nos deslocamos
de carro. Quando está chuva miudinha o tempo de deslocação numa
bicicleta é tão curto que não chegamos a ficar molhados,
principalmente se tivermos em conta que podemos ir de porta a porta
com este meio de transporte. No que diz respeito ao clima,
pessoalmente considero que a situação mais adversa é o vento
fresco a forte frontal, que torna a deslocação mais difícil. No
entanto, esta situação é facilmente minimizada com uma bicicleta
com mudanças e uma boa escolha de percurso (o interior da cidade é
menos ventoso que a frente marítima). Em Copenhaga e Amsterdão as
condições climatéricas são francamente mais adversas do que aqui
e cerca de 80% dos utilizadores de bicicleta continuam a fazê-lo no
Inverno, apesar das temperaturas negativas e das estradas com neve.
Mito nº 2- A cidade é
demasiado íngreme: Cerca de 80% a 85% do comércio e serviços da
cidade encontra-se na parte baixa da mesma, sendo totalmente
acessível com qualquer tipo de bicicleta. Para as ligações entre
as zonas residenciais a cotas intermédias (hospital, ALRAA, novo
DOP) e as áreas comerciais, as mesmas são possíveis com uma boa
bicicleta com mudanças e com uma boa escolha de percursos (um
percurso mais longo e menos íngreme é mais acessível do que um
percurso mais directo que tenha uma subida mais acentuada). Para a
ligação das zonas residenciais a cotas mais altas (Belavista e
Dutras) com a cidade, a mesma é possível com uma bicicleta
eléctrica, que dá um apoio nos troços mais difíceis. Cidades como
Lisboa, Porto ou São Francisco são mais íngremes do que a Horta e
o número de utilizadores de bicicleta nestas cidades está a
aumentar diariamente.
Mito nº 3- Condições
de circulação adversas: As estradas tipo calçada não são as mais
indicadas para a circulação de bicicletas, sendo os pavimentos em
asfalto muito mais confortáveis. No entanto, este problema pode ser
minimizado com uma boa bicicleta, que tenha um sistema de
amortecedores na roda da frente e um selim que seja confortável e
com amortecedores. Uma bicicleta com amortecedores na roda traseira
também pode ajudar. Mais grave é a falta de ciclovias,
estacionamento e condições de segurança e facilidade de
circulação. Contudo, só será possível melhorar as mesmas através
da sensibilização dos governantes locais e regionais. Naturalmente,
quanto mais pessoas exigirem melhores condições de mobilidade
suave, maior a sensibilidade das entidades para ir ao encontro dessas
exigências.
Mito nº 4- Vestuário:
Não há nada mais assustador do que ver alguém andar de bicicleta
de forma descontraída na marginal totalmente equipado para fazer
BTT. Não me interpretem mal, não tenho nada contra os equipamentos
de BTT, os mesmos são práticos e úteis no seu verdadeiro contexto,
mas tão desadequados à utilização urbana como o equipamento de um
piloto de rally para o cidadão comum andar de carro na cidade. Uma
bicicleta adequada, com guarda-lamas, protecção de corrente,
protecção de saias (nas bicicletas de senhora), etc. permite que
nos desloquemos com a roupa do dia a dia. Este é um mito tão
enraizado na sociedade contemporânea que surgiu um movimento global
para mostrar que andar de bicicleta não é incompatível com a
utilização de roupa quotidiana. Esse movimento chama-se Cycle
Chic e surgiu há mais de cinco
anos na Dinamarca através do “Copenhagen Cycle Chic”
(http://www.copenhagencyclechic.com/),
tendo-se alastrado a outras cidades do mundo incluindo Lisboa e
Porto.
Como podemos observar,
existe algo essencial para que seja possível utilizar a bicicleta
como meio de transporte urbano, e que é: uma boa bicicleta. Uma
experiência desagradável numa bicicleta desadequada é suficiente
para quebrar o ânimo de utilizadores menos motivados. Existem
diversos tipos de bicicleta sendo que, para uma utilização mais
urbana, uma bicicleta de cidade é mais indicada do que uma bicicleta
de montanha (BTT) ou de estrada (ciclismo). É importante lembrar que
uma utilização urbana da bicicleta é muito diferente de uma
utilização fora de estrada, e que uma bicicleta que permita uma
posição mais vertical do tronco oferece uma melhor visibilidade do
que nos rodeia, alivia a pressão nos pulsos e dá mais conforto na
zona dos rins. Na hora de comprar, vale a pena perder algum tempo a
analisar diversos modelos, tendo sempre presente as necessidades
pessoais, tais como o tamanho do quadro, tipo de selim, tipo de
guiador, tipo de sistema de travões e de mudanças, acessórios,
etc. Na página “I cycle in horta” não faltam alternativas e
sugestões para encontrar a bicicleta certa.
A todos os que queiram
juntar-se-nos, sejam bem-vindos...
nota: Este artigo foi publicado na edição 74 do jornal cultural FAZENDO.
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