segunda-feira, 20 de setembro de 2010

dia europeu sem carros

Como será do conhecimento de todos, no próximo dia 22 (quarta-feira) será celebrado mais um dia europeu sem carros e da semana europeia da mobilidade. Este ano a Câmara Municipal da Horta resolveu aderir, parcialmente, a este projecto, promovendo diversas iniciativas nomeadamente: inauguração de mais um parque de bicicletas (será o sexto), organização de um ciclo paper e interdição de circulação automóvel, entre as 8h e as 15h30 do dia 25 de Setembro (sábado) da rua Serpa Pinto, Largo Duque de Ávila e Bolama e parte da rua Walter Bensaúde.
O Blogue HORTA XXI gostaria de dar os parabéns à Câmara Municipal da Horta pela adesão a este evento tão importante para a consciencialização ambiental de de qualidade de vida nas cidades, bem como às suas iniciativas propostas.
O blogue HORTA XXI gostaria, no entanto, de propor algumas iniciativas mais, bem como a alteração de outras na próxima edição, nomeadamente: introdução de postos de recolha e entrega de hortabike na totalidade das freguesias urbanas, através de protocolos com as juntas de freguesia. Utilização gratuita dos mini-bus durante toda a semana europeia da mobilidade. Interdição de circulação automóvel nos troços previstos durante toda a semana europeia da mobilidade.
Mais uma vez, aos organizadores dos "dias verdes cmh", apresentamos os parabéns, desejando que as sugestões apresentadas possam levar esta iniciativa um pouco mais longe.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

a importância dos técnicos qualificados na intervenção do espaço público

Deambulando pela Horta rapidamente apercebemo-nos de algumas intervenções no espaço público que se destacam pela sua qualidade. Citando alguns casos como a esplanada da Taberna de Pim (na fotografia), na nova esplanada do Peter Café Sport, no jardim da CASA, etc. podemos observar que têm em comum o facto de terem sido feitas por técnicos qualificados. Outras há, que não foi necessária qualquer intervenção, porque a envolvente já tem as condições necessárias para este tipo de utilização, como é o caso da esplanada do Café Internacional e a do Café Infante. Infelizmente existem outras em que foi necessário uma intervenção, mas cujos promotores optaram por não envolver quaisquer técnicos e cujos resultados deixam muito a desejar. Soluções como o JackPote, as roulotes de comida rápida, a esplanada do café junto ao tribunal, etc. pululam pela cidade sem aproveitar todo o potencial dos locais onde estão inseridas. Muitas das vezes esquecemo-nos que elas existem ou simplesmente ficamos sem vontade de frequentá-las a menos que não haja mais alternativas.
Não nos podemos esquecer que o espaço público é de todos e deveria existir alguma exigência nas propostas de intervenção ou de ocupação do mesmo.
Naturalmente que existem espaços agradáveis que não foram feitos por arquitectos, designers ou arquitectos paisagistas, mas foram feitos por pessoas com sensibilidade estética e, principalmente, com muita informação sobre diversos tipos de intervenção no espaço público.
Criar um espaço abrigado para albergar uma mesas no exterior é muito mais que ir ter com um serralheiro com jeito para soldar tubos de aço galvanizado, pedir um toldo aos fornecedores de café e umas cadeiras aos fornecedores de refrigerantes. E a quem não consegue ver diferenças entre uma intervenção elaborada por técnicos qualificados e uma intervenção desenrascada à portuguesa, recomendo que passe uma ou duas horas na esplanada da Taberna de Pim, e talvez consiga sentir a diferença.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A "Arte Nova" e o Plano de Urbanização

Com a reconstrução da cidade da Horta após o sismo de 1926, a imagem tradicional desta cidade foi bastante alterada. Até então, conforme relatado por diversos autores, a cidade da Horta era uma cidade decorada a branco e cinzento, cores tradicionais da arquitectura popular devido às cores naturais dos materiais utilizados, a cal e o basalto. Naturalmente, nem todas as casas tinham as molduras, socos e cunhais em pedra à vista, sendo que, nas situações em que estes elementos eram em argamassa, os mesmos eram pintados a cinza escuro, de forma a combinar com os elementos de basalto das edificações mais nobres. As excepções eram, naturalmente, as construções edificadas por pessoas “de fora”, como foi o caso dos D'Abney. O sismo de 1926, tal como as diversas catástrofes que aconteceram ao longo da História, trouxe destruição, mas também uma oportunidade de renovação. Curiosamente vivia-se na Europa um período riquíssimo das artes decorativas, ao qual a arquitectura não ficou imune, surgindo assim um estilo arquitectónico que, apesar de ter diferentes denominações nos diversos países onde surgiu (Holanda, França, Bélgica, Inglaterra, etc.), ficou internacionalmente conhecido pelo nome “Arte Nova”.

Rapidamente surgiram os grandes edifícios multiresidenciais em locais privilegiados (gavetos ou junto a espaços públicos), fortemente decorados e destacando-se das demais construções. Grande parte destes edifícios continua a existir e, felizmente, a maioria está bastante preservada, existindo apenas um, ou dois, que necessitam urgentemente de intervenção.

Os habitantes da Horta não ficaram indiferentes a esta nova vaga de cor, de formas e de casas luminosas e rapidamente adoptaram muitas das características desta novas edificações, nomeadamente nas dimensões dos vãos, no formato das molduras, nos varandins, nas platibandas, etc. Houve até quem tenha adaptado as suas casas a esta linguagem com o mínimo de intervenção, recorrendo a soluções tão simples como pintar a fachada com tons claros de verde, rosa, amarelo ou azul, e as molduras, socos e cunhais de branco. Pouco a pouco, a cidade da Horta foi-se alegrando, tornando-se colorida, ganhando a imagem de uma cidade com uma linguagem contemporânea, mesmo com construções de cariz tradicional.

Infelizmente, parte dessa riqueza cromática perdeu-se no último quartel do séc. XX, em parte devido à implementação de um artigo no regulamento municipal, durante os anos 80, que incentivou um regresso à imagem de uma cidade pintada a cinzento e branco.

No entanto, ainda estamos a tempo de recuperar a imagem “Arte Nova” que caracterizou a cidade após o sismo de 1926, ou, pensando melhor, talvez não. E porque não?

Consideremos as características gerais das edificações tradicionais que tentaram adaptar-se à imagem tipo “Arte Nova”: fachadas de cores claras, vãos verticais e molduras, socos e cunhais pintados a branco. De acordo com o Regulamento do Plano de Urbanização (versão revista), as cores permitidas para as molduras, cunhais e socos em argamassa são o cinzento e o preto, invalidando completamente a imagem “Arte Nova” de qualquer intervenção que não esteja já com estes elementos pintados a branco. Espero apenas que a sensibilidade e o bom senso dos serviços municipais prevejam alguma “abertura” para situações em que é essencial para a imagem de rua que novas intervenções tenham elementos decorativos pintados a branco, porque a aplicação integral deste ponto, que parece tão insignificante, poderá agravar ainda mais a perda da identidade “Arte Nova” do centro da cidade da Horta.

Para terminar, gostaria de deixar bem claro que não tenho nada contra as molduras e cunhais pintadas a cinzento, apenas contra a sua obrigatoriedade, injustificada, na minha opinião.

Nota: este post foi publicado na edição nº 37 do jornal FAZENDO.