terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

a bicicleta e o futuro das cidades.

Amsterdão, Bogotá, Copenhaga e Curitiba. Para além de cobrirem as primeiras letras do alfabeto estas quatro cidades têm algo de muito especial. Todas elas são repetidamente apresentadas como modelos de sucesso no que diz respeito à mobilidade dos cidadãos bem como à qualidade de espaços que permitem o convívio e usufruto por parte dos seus utilizadores.

Como é que cidades de países com costumes e níveis de desenvolvimento tão distintos podem estar tão próximas na relação entre as mesmas e os cidadãos? A resposta é extremamente simples e reside nas políticas de transporte e de planeamento, adoptadas durante os anos 70, em todas elas. Por razões distintas verificou-se que nestas cidades havia um problema de mobilidade, estando todas elas, como qualquer cidade moderna, maioritariamente vocacionadas para o uso do automóvel como meio de transporte principal dos seus cidadãos. Tal como em todas as cidades modernas, nestas cidades existiam problemas graves de congestionamento automóvel, falta de estacionamento e dificuldades de mobilidade por parte de não utilizadores de automóvel. Em Amsterdão, a adicionar a estes problemas surgiu igualmente um problema de aumento radical de acidentes mortais, sendo grande parte das vítimas crianças. A fim de inverter esta situação houve, há cerca de quatro décadas, uma mudança radical nas políticas de transporte. Nas duas cidades europeias essa mudança foi imposta por protestos massivos por parte dos cidadãos, enquanto nas duas cidades latino-americanas essa mudança foi introduzida por parte de governantes com visão.

Em vez de se demolirem edifícios para alargamento de ruas, ou de se transformarem parques e jardins em estacionamentos automóveis, melhorando as condições para a mobilidade automóvel, nestas cidades optou-se por fazer o inverso e deixou de se privilegiar o uso deste meio de transporte. Faixas de circulação automóvel foram transformadas em faixas para transportes públicos, bem como em faixas de circulação para bicicletas. Os passeios foram aumentados através da redução do estacionamento automóvel, e nos centros históricos o acesso automóvel passou a ser altamente condicionado. O resultado destas medidas foi um súbito aumento do uso dos transportes públicos e principalmente da bicicleta como meio de transporte. Em Amsterdão e Copenhaga, cerca de 35% das pessoas utiliza a bicicleta como meio de transporte entre casa e trabalho, número que aumenta para 50% se se considerarem apenas as deslocações para outras actividades, como ir às compras ou a ocupação dos tempos livres.

A bicicleta permite uma deslocação de porta a porta, sem problemas de estacionamento, sem custos de deslocação e baixos custos de manutenção, permitindo fazer exercício físico ao mesmo tempo que nos deslocamos. A juntar a todas estas vantagens, lembro que o uso da bicicleta não emite gases de efeito de estufa, sendo, assim, um meio de transporte ecológico. Infelizmente o uso da bicicleta está, ainda, associado a classes sociais mais baixas, devido ao seu baixo custo, contrariamente ao automóvel, que continua a ser um símbolo de estatuto económico. No entanto, esta mentalidade está aos poucos a mudar e é possível ver, em cada vez mais cidades, tal como em Amsterdão, Bogotá, Copenhaga e Curitiba, pessoas de todas as idades, credos ou classes sociais a utilizarem a bicicleta como meio de transporte.

Tal como no início do século XX, quando a bicicleta permitiu uma maior autonomia às mulheres, impulsionando em parte as lutas pela igualdade de géneros, no início do século XXI a bicicleta permitirá melhorar a mobilidade da generalidade dos cidadãos e reduzir a desigualdade social e o isolamento pessoal provocados pelo automóvel. O futuro das cidades passa pela restrição do uso do automóvel e pela implementação de meios que permitam a mobilidade pessoal não poluente e não invasiva.

A mudança já começou.

E tu, vais ficar a ver passar as bicicletas?

nota: este artigo foi publicado na edição nº 71 do FAZENDO.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

dia europeu sem carros

Como será do conhecimento de todos, no próximo dia 22 (quarta-feira) será celebrado mais um dia europeu sem carros e da semana europeia da mobilidade. Este ano a Câmara Municipal da Horta resolveu aderir, parcialmente, a este projecto, promovendo diversas iniciativas nomeadamente: inauguração de mais um parque de bicicletas (será o sexto), organização de um ciclo paper e interdição de circulação automóvel, entre as 8h e as 15h30 do dia 25 de Setembro (sábado) da rua Serpa Pinto, Largo Duque de Ávila e Bolama e parte da rua Walter Bensaúde.
O Blogue HORTA XXI gostaria de dar os parabéns à Câmara Municipal da Horta pela adesão a este evento tão importante para a consciencialização ambiental de de qualidade de vida nas cidades, bem como às suas iniciativas propostas.
O blogue HORTA XXI gostaria, no entanto, de propor algumas iniciativas mais, bem como a alteração de outras na próxima edição, nomeadamente: introdução de postos de recolha e entrega de hortabike na totalidade das freguesias urbanas, através de protocolos com as juntas de freguesia. Utilização gratuita dos mini-bus durante toda a semana europeia da mobilidade. Interdição de circulação automóvel nos troços previstos durante toda a semana europeia da mobilidade.
Mais uma vez, aos organizadores dos "dias verdes cmh", apresentamos os parabéns, desejando que as sugestões apresentadas possam levar esta iniciativa um pouco mais longe.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

a importância dos técnicos qualificados na intervenção do espaço público

Deambulando pela Horta rapidamente apercebemo-nos de algumas intervenções no espaço público que se destacam pela sua qualidade. Citando alguns casos como a esplanada da Taberna de Pim (na fotografia), na nova esplanada do Peter Café Sport, no jardim da CASA, etc. podemos observar que têm em comum o facto de terem sido feitas por técnicos qualificados. Outras há, que não foi necessária qualquer intervenção, porque a envolvente já tem as condições necessárias para este tipo de utilização, como é o caso da esplanada do Café Internacional e a do Café Infante. Infelizmente existem outras em que foi necessário uma intervenção, mas cujos promotores optaram por não envolver quaisquer técnicos e cujos resultados deixam muito a desejar. Soluções como o JackPote, as roulotes de comida rápida, a esplanada do café junto ao tribunal, etc. pululam pela cidade sem aproveitar todo o potencial dos locais onde estão inseridas. Muitas das vezes esquecemo-nos que elas existem ou simplesmente ficamos sem vontade de frequentá-las a menos que não haja mais alternativas.
Não nos podemos esquecer que o espaço público é de todos e deveria existir alguma exigência nas propostas de intervenção ou de ocupação do mesmo.
Naturalmente que existem espaços agradáveis que não foram feitos por arquitectos, designers ou arquitectos paisagistas, mas foram feitos por pessoas com sensibilidade estética e, principalmente, com muita informação sobre diversos tipos de intervenção no espaço público.
Criar um espaço abrigado para albergar uma mesas no exterior é muito mais que ir ter com um serralheiro com jeito para soldar tubos de aço galvanizado, pedir um toldo aos fornecedores de café e umas cadeiras aos fornecedores de refrigerantes. E a quem não consegue ver diferenças entre uma intervenção elaborada por técnicos qualificados e uma intervenção desenrascada à portuguesa, recomendo que passe uma ou duas horas na esplanada da Taberna de Pim, e talvez consiga sentir a diferença.