A Horta, cidade mar, cresceu de costas para o mar... e para o Pico. Aspecto fácil de comprovar com o facto da frente marítima da Matriz se fazer com as traseiras das casas situadas na sua rua principal. Situação que não é única em vários aglomerados urbanos dos Açores.

No final da década de 1950, a construção da Avenida Marginal teve um caracter de protecção da cidade contra as maresias e criou uma via rodoviária estruturante do trânsito urbano. Talvez por isso mesmo não lhe foram adicionadas estruturas de atracção popular, como esplanadas, cafés e outros espaços lúdicos, embora duas zonas verdes tenham sido ocupadas por um pequeno jardim e um parque infantil com características marcantes da década de 1960.

Apesar desta via ter um dos cenários mais belos do país a vista para a baía da Horta com a Montanha do Pico ao fundo, a Avenida Marginal nunca foi o principal foco de atracção dos residentes para os seus tempos livres de passeio e relaxamento. Também não existem bancos que permitam ao transeunte sentar-se a maravilhar-se com a paisagem e a observar a actividade portuária, o murete novamente repete a tradição de uma cidade de costas viradas para o mar.

A agravar a capacidade da Avenida como foco atracção dos tempos livres do seus residentes e foco de atracção de actividades sociais, o seu parque infantil foi essencialmente ocupado por um parque de estacionamento asfaltado sem qualquer cuidado urbanístico ou sinal de bom-gosto, enquanto o lago do jardim passou a coincidir com a placa de cobertura de casas de banho públicas, cercadas de mais espaços de estacionamento automóvel. Sobrou um pequeno quiosque e um outro maior com uma esplanada desvalorizada para um agradável aproveitamento como espaço de convívio.

Assim, passados cerca de meio século da construção da Avenida Marginal, esta continua a ser uma estrutura marginal na vida social da Horta.
Pergunta-se que fazer? Manter este subaproveitamento? Reordenar e incentivar actividades lúdicas e de restauração compatíveis com o uso rodoviário e de estacionamento da avenida? Adicionar mobiliário urbano capaz de atrair jovens, reformados e turistas para amenos convívios e onde seja possível desfrutar a paisagem? Deixar que a marginalização da avenida se acentue e torná-la num vasto parque de estacionamento e desistir de virar a cidade da Horta para o mar?
Questões há muitas possíveis... o que desejo é que se encontrem as respostas adequadas.